03 Agosto 2022
"E o 'espetáculo' da nossa Missa já não lhes diz mais nada. Talvez se perguntem com espanto: 'Para que serve tudo isso? Para que serve uma missa, para que serve uma fé?'. Sentado no alto do adro da igreja, quase me parece estar numa vitrine. Um manequim, estranhamente trajado, colocado na vitrine. Talvez a Igreja seja vista assim: uma coisa estranha, antiga, inútil", escreve Derio Olivero, bispo de Pinerolo, Itália, em artigo publicado por L'Eco del Chisone, 11-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Hoje estive em Turim para a ordenação do novo arcebispo. Estacionei perto de alguns bispos do Piemonte e com eles caminhei em direção à entrada da catedral. Para a solenidade estávamos vestidos com a batina com filetes e faixa. No caminho passamos perto de um banco onde alguns jovens estavam sentados. Um, com voz surpresa, falou aos outros: "Quem são esses, com roupas tão estranhas?". Não era uma frase de escárnio ou uma crítica. Ninguém riu nem fez comentários vulgares. Era realmente uma pergunta.
Foto: Blog da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, Alvinópolis, Minas Gerais
Aqueles jovens não sabem mais reconhecer o hábito de um bispo. Para eles éramos marcianos ou, pior, gente usando fantasias de outros tempos. Extraterrestres ou animais pré-históricos. Objetos estranhos, não identificados. Aquela pergunta ficou em meu coração. Durante a Celebração, de vez em quando eu olhava para a praça, os prédios, a área de Porta Palazzo. Recém eu havia atravessado o mercado de Porta Palazzo, lotado de pessoas de mil etnias diferentes. Agora olho para a cidade, que em grande parte ignora a celebração que estamos vivendo. Muitos pertencem a outras religiões e outras confissões; muitos são ateus ou agnósticos, muitos são indiferentes.
Foto: IacobusL | Wikimedia Commons
A cidade gira em outros comprimentos de onda, em outras prioridades, em outras culturas. Os jovens no banco perguntavam-se quem éramos e durante a celebração certamente muitos transeuntes terão se perguntado: “O que fazem aquelas pessoas vestidas com aqueles chapéus esquisitos na cabeça?”. Estamos celebrando uma Eucaristia. Nesta praça estamos celebrando a morte e ressurreição de Cristo. As pessoas olham de longe, presas em sonhos, problemas e feridas. Olham e não entendem. Olham e consideram tudo tão distante da sua vida, do seu mundo. É sábado. Passeiam sob os pórticos, carregando no coração uma semana cheia de trabalho, estudo, esforços, alegrias e projetos.
Carregando sua preciosíssima vida em seus corações. E o "espetáculo" da nossa Missa já não lhes diz mais nada. Talvez se perguntem com espanto: “Para que serve tudo isso? Para que serve uma missa, para que serve uma fé?”. Sentado no alto do adro da igreja, quase me parece estar numa vitrine. Um manequim, estranhamente trajado, colocado na vitrine. Talvez a Igreja seja vista assim: uma coisa estranha, antiga, inútil. Esses pensamentos rodam em minha mente à medida que a celebração progride. Olho diversas vezes para o esplêndido Crucifixo que está na minha frente. Ele também, da cruz, olhava para as pessoas que passavam indiferentes a seus pés, até mesmo irreverentes. E com amor infinito morreu também por elas. Eis o significado dessa celebração: um excelente treinamento para amar a todos, crentes e não crentes, praticantes e não praticantes.
Foto: Carolus | Aleteia.org
Eis a minha tarefa de bispo: guiar a minha Igreja a permanecer com humildade no meio da sociedade, sem pretensões, com um desejo louco de ajudar cada homem e mulher a viver, a encontrar confiança e esperança. Estar no meio da sociedade com a mesma dedicação gratuita de Cristo. Sabendo que esta é precisamente a atitude do Ressuscitado: ainda hoje torna-se um humilde companheiro de viagem, garantindo a todos o cumprimento da vida. Precisamente o que estamos celebrando: nele, confiantes rumo ao cumprimento.
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“Quem são esses, com roupas tão estranhas?” Artigo de Derio Olivero, bispo de Pinerolo, Itália - Instituto Humanitas Unisinos - IHU